Os astros estavam alinhados no céu da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, naquele 28 de setembro no ano de 1942. Nascia Sebastião Rodrigues Maia, filho de Altivo Maia e Maria Imaculada Nogueira. O garoto tinha sol em libra e ascendente em touro, ou seja, regido por Vênus, tinha gosto pelo prazer - amante da beleza, das artes e das coisas boas que a vida pode dar.
Dentro dessa configuração astral, não é nenhuma surpresa que Tim tenha demonstrado vocação para o canto desde cedo, escrevendo suas primeiras músicas aos sete anos e logo aprendendo violão e bateria. O que o coral da igreja que sua família fazia parte não esperava é que, em alguns anos, o talentoso jovem se tornaria o furacão Tim Maia, um dos mais importantes e irreverentes nomes da música brasileira.
Com 29 discos de estúdio lançados e quase trinta anos de carreira, o cantor fez soul, funk, gospel, rock, baião e até bossa nova, numa prolífica trajetória que poderia ter sido ainda mais longa se não fosse por sua vida desregrada. O carioca nos deixou ainda jovem, aos 55 anos, vítima de uma infecção generalizada.
O próprio Tim costumava dizer que o segredo de seu sucesso era o equilíbrio: metade de suas músicas eram mela-cueca e a outra metade esquenta-sovaco. Além das baladas românticas e dos funks vibrantes aos quais ele empregou seu vozeirão, ele ainda encontrou espaço para outras duas faces: o religioso, especialmente marcado pela sua fase racional, e o Tim Maia bossa-novista.
O Tim Maia mela-cueca
O compositor sempre soube escrever sobre suas dores de amor, boa parte delas devido ao seu dom para cornologia, termo utilizado por ele mesmo para se referir às traições que sofreu na vida. Logo em seu primeiro disco homônimo, lançado em 1970, o cantor nos apresentou às baladas Eu Amo Você e Azul da Cor do Mar, duas faixas de partir o coração. A segunda teria sido, inclusive, supostamente inspirada pelo vai-e-vem das mulheres no quarto de seus amigos, já que Tim não tinha tanta sorte no amor.
Ainda no começo de sua carreira, hits como Primavera (Vai Chuva) (1970), Você (1971), O Que Me Importa (1972) e Gostava Tanto de Você (1973) embalaram diversos corações apaixonados e geraram ao cantor dois discos de ouro pelos discos homônimos de 1970 e 1973. Claro que sua sofrência não acabaria aí, já que as poderosas Casinha de Sapê e Me Dê Motivo foram lançadas nos discos Nuvens (1982) e O Descobridor dos Sete Mares (1983).
O Tim Maia esquenta-sovaco
Essa é certamente a faceta mais conhecida do cantor. Quem nunca requebrou ao som de Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) (1971), Réu Confesso (1973), Sossego e Acende o Farol (1978) ou é ruim da cabeça ou doente do pé. Foi numa ida aos Estados Unidos em sua juventude, em 1959, que Tim conheceu o soul e o funk, o que mudou sua vida completamente. Foi ele um dos responsáveis por trazer essa sonoridade ao iê-iê-iê brasileiro do final da década de 1960 ao produzir um dos discos de Eduardo Araújo.
O som festivo de Tim Maia continuaria a ser ouvido no decorrer da década de 1980 nas faixas Você e Eu, Eu e Você (Juntinhos) (1980), A Festa (1982) e O Descobridor dos Sete Mares (1983).
O Tim Maia religioso
Depois de visitar um amigo em 1974, Tim Maia entrou em contato com a doutrina Cultura Racional através do livro Universo em Desencanto. Em pouco tempo, o carioca já se tornaria devoto fiel do líder Manuel Jacinto Coelho, escrevendo músicas inspiradas pelos ensinamentos do livro e espalhando a palavra da religião. Foi daí que nasceram os clássicos cult Racional Vol.1 e Vol.2, lançados pelo Seroma, selo de Tim Maia, após serem recusados pela gravadora RCA. Devido às crenças na doutrina, o cantor ficou afastado do álcool e de outras drogas, levando-o a uma performance vocal cristalina.
Sua fase racional não durou muito, já que ainda em 1975 o cantor deixaria a religião. Apesar disso, teve tempo de produzir dois grandes hits: Imunização Racional (Que Beleza) e Bom-Senso. Nos anos 2000 foram descobertas faixas nunca lançadas de sua fase racional, levando ao póstumo Racional Vol. 3, lançado em 2011.
É válido lembrar que, apesar de não ter sido um cristão devoto, Tim Maia gravou uma canção de temática cristã: A Festa do Santo Reis, no disco Tim Maia, de 1971.
O Tim Maia bossa-novista
Tal qual quase todos os jovens de sua época, Tim Maia também foi tocado pelo lançamento do Chega de Saudade, de João Gilberto, em 1959. O disco deixou uma tremenda impressão em Tim, mas foi somente em 1990 que o ouviríamos interpretar uma canção do movimento com o disco Tim Maia Interpreta Clássicos da Bossa Nova. Faixas como Eu e a Brisa, de Johnny Alf, A Rã, de João Donato e Caetano Veloso e Wave, de Tom Jobim, foram homenageadas pelo síndico nesse disco que teve uma recepção morna por parte do público e crítica.
Além desse álbum, ouviríamos Tim interpretar canções da bossa nova novamente somente em 1997 em seu penúltimo disco em vida: Só Você (Para Ouvir e Dançar). Nele ouvimos O Morro Não Tem Vez e Vivo Sonhando, ambas de Tom Jobim.
Relembre todas as fases e faces de Tim Maia aqui na Qobuz.